Moradores dos povoados de Pedrinhas e de Morro de Cima, em Muquém de
São Francisco, no Centro-Oeste da Bahia, estão bebendo água de pequenas
lagoas, represadas desde a cheia de dezembro de 2011, para economizar o
que conseguem armazenar nas cisternas. A medida, no entanto, acaba
causando problemas de saúde, como irritações na pele, diarreia e dores
de estômago.
Reportagem do G1 mostra que três cidades da Bahia decretaram situação de emergência por motivos opostos em 2012: seca e enchentes. O G1 foi até essas cidades: Muquém do São Francisco, Morpará e Ibotirama, às margens do Rio São Francisco, e confirmou a situação.
As primas Laíza e Giovania, de 10 anos e 11 anos, estudam na mesma
escola no povoado de Pedrinhas. Todos os dias tomam dois banhos na lagoa
barrenta e mal cheirosa, que fica a cerca de 200 metros da casa onde
moram.
O primeiro motivo do banho é para irem à escola, e o segundo, para
amenizar o calor médio de 40°C. "O jeito é tomar banho aqui para
estudar, porque não temos água. Ainda bem que nós temos essa água aqui
para lavar o cabelo. Eu tomo banho aqui porque em casa a gente não tem
água", diz Laíza.
"É muito difícil a vida sem água. Na fazenda grande, tem água encanada,
mas aqui não tem. A gente leva a água de balde para beber, para tomar
banho e para lavar louça. O que sobra da cisterna a gente pega de balde e
coa para beber", afirma a menina ao G1, enquanto espalha xampu no cabelo, na tarde de sexta-feira (4).
Segundo especialistas do Hospital das Clínicas de São Paulo e da Universidade Federal de São Paulo (USP), o contato com água de enchente pode provocar doenças gastrointestinais, hepatite A e leptospirose.
A recomendação é a de procurar um médico assim que a pessoa perceba
sintomas como febre, calafrios, dores abdominais, dor de cabeça ou
fraqueza.
"A gente só não nada nessa água porque tem piranha. Eu queria ter água encanada e um posto médico aqui", diz Laíza.
A tia da menina, Elizabeth Pinto de Souza, 36 anos, conta que a família
não tem outra opção e precisa usar a água represada da enchente.
"Quando acaba a água daqui [cisterna], usamos a água da enchente, que
tem cheiro de lama. Vamos fazer o quê? Quando acaba a água limpa a gente
pega da lagoa até para beber, mesmo com cheiro ruim. A gente, às vezes
coloca cloro, mas quando não tem a gente bebe assim mesmo. A água tem
muita bactéria, então acontece de dar diarreia e dor de estômago."
A agricultora Diozentina Queiroz da Silva, 54 anos, tem sete filhos e
vive problema semelhante no povoado vizinho de Morro de Cima. "Quando a
gente se banha dá até coceira no corpo. Para beber não dá, pois a água
está afetada [contaminada]. A coceira que dá logo depois do banho é
muito grande", diz ela.
Luciana dos Anjos, 32 anos, e o marido Alessandro de Souza, 27 anos,
também não conseguem escapar de problemas de saúde provocados pela falta
de água potável. "A gente usa a água da lagoa e dá dor de barriga.
Vamos fazer o quê?", diz a mulher.
Menina
de 4 anos vive na região do povoado de Pedrinhas, em Muquém de São
Francisco, onde alguns moradores usam água represada e sem tratamento
para consumo (Foto: Glauco Araújo/G1)
O secretário de Agricultura da cidade, Gilmar Correia da Silva, afirma
que o uso da água represada da enchente provoca problemas secundários na
área da saúde. "Temos de monitorar as famílias com assistentes sociais.
Construímos 400 cisternas na cidade, que vão ajudar 400 famílias, mas
ainda não é suficiente", argumenta.
O prefeito de Muquém de São Francisco, José Nicolau Teixeira, diz que
os reflexos da seca na cidade são diretos e que tenta minimizar a falta
de água da chuva com o uso de carros pipas para encher as cisternas com
água potável. "Tem situações que chegamos na porta da casa com o carro
pipa e a família não tem como armazenar a água."
Família
disse que nas horas de aperto acaba bebendo água lamacenta represada da
enchente de dezembro de 2011 no povoado de Pedrinhas, em Muquém de São
Francisco (BA) (Foto: Glauco Araújo/G1)
Fonte: G1 Bahia.
Fonte: G1 Bahia.
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